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05.03.2018

Vulcão Lascar: como subir o vulcão mais ativo do Deserto do Atacama

Inspira e um passo.. Expira e outro passo… E assim se inicia lentamente a subida ao Vulcão Lascar, o mais ativo do Deserto do Atacama, no Chile. Quem vê de fora até pensa que é fácil, mas há toda uma preparação para poder chegar neste momento do início da subida: beber muita água na noite anterior (cerca de 2 litros), não comer carnes e refeições pesadas, nada de bebidas alcoólicas, dormir cedo, sem contar o medo e pressão psicológica da mente dizendo a todo instante “será que vou conseguir?”.

 

Texto e fotos por Juliana Santos

 

Como se não bastasse, a programação inicia bem cedo, por volta das 5h da manhã, com várias camadas de roupas, entre elas: calça segunda pele, calça legging, blusa segunda pele, blusa fleece (especial para o frio), blusa corta-vento, casaco, luvas, dois pares de meia, touca, cachecol, e por fim, uma mochila cheia de coisas (mas levando apenas o essencial). Nem parece férias né?! Mas a vontade de experienciar é sempre maior que qualquer outra coisa.

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E seguimos, levando água (muita água) durante a subida, com várias paradas para utilizar o banheiro inca (aquele no meio do deserto, ao ar livre) e já é possível sentir o mal de altitude dando o ar da graça, com uma leve pressão na cabeça, tontura, dor de cabeça, enjoo e por aí vai.

 

Chegando na Laguna Lejia, há uma parada para fotos e um belo café da manhã.
DICA: Coma bem e ingira algum doce, como pão com doce de leite, porque ajuda a dar energia.

 

 

Logo, retornamos ao veículo e continuamos em direção à base do vulcão, até onde o carro conseguir ir. Depois de uma reunião com todos, explicando como funciona e com instruções para melhor aproveitamento na subida, se inicia um ciclo de “quebras de barreiras”.

 

Digo isso de quebrar barreiras em todos os sentidos da vida! Porque a partir do momento que se inicia a caminhada é somente você e a montanha, como se fosse uma espécie de meditação nas altitudes. Há várias técnicas de respiração e passos, mas a mais importante ao começar é o respeito à montanha. Não vá pensando: “eu vou subir essa montanha mega fácil e rápido, porque já fiz coisas muito piores”…Pense: “Com amor, respeito e ajuda da montanha, conseguirei chegar ao final deste trekking”, e realmente medite neste pensamento, sempre com muito respeito.

 

A respiração deve ser um pouco mais lenta e longa, e os passos calmos, acompanhando a respiração, com os guias sempre orientando da melhor forma. A subida à cratera do Vulcão Lascar é dividida em três partes. A primeira é a mais longa e mais cansativa, porque é o momento em que você está se acostumando com toda a situação fora da sua zona de conforto (altitude, cansaço, enjoos, dor de cabeça, dificuldade de respiração, dores musculares, principalmente nas pernas, entre outros sintomas).

 

 

A caminhada continua com paradas em alguns pontos estratégicos.

 

Logo começa a segunda parte da subida, que é bem difícil já que é a mais íngreme, exigindo mais da pessoa, mas é também a mais curta. E, por fim, a terceira parte: é longa, mas no início dela já é possível avistar aonde você chegará, na Cratera do Vulcão Lascar, e depois de mais de três horas caminhando, tal visão traz tranquilidade.

 

Pelo meio da terceira parte, é possível ver, bem próximo à trilha, pedaços enormes de geleiras que rendem belas fotos. Mas esse é um momento de concentração, como durante toda a subida, onde sua mente fica lhe dizendo a todo instante: “não vou conseguir, vou desistir”. Então talvez seja melhor guardar registros deste momento, apenas na memória e no coração, que é o que realmente importa. Eu só pensava: “estou chegando, falta pouco, muito pouco”..

 

Sempre digo a todos: não importa a viagem que você faz, o lugar que você vai, e nem com quem você está (ou se está sozinho), e sim a forma como você encara todas as novidades que estão em sua frente! A curiosidade pelo diferente, pelo outro, pela vida dele, pela tradição que carrega, as histórias que tem para te contar, tudo o que tem a te ensinar, os lugares que vai te levar, a culinária local…tudo, cada detalhe, deve ser olhado de forma diferente, sem pré-conceitos, sem “eu gosto disso” ou “eu odeio aquilo”, e é isso que tornará a sua viagem inesquecível, cheia de experiências encantadoras.

 

 

Chegar à Cratera do Lascar, talvez nem seja tudo isso… mas o que faz mudar tudo é a visão diante daquela situação! A partir do momento em que você olha para todas as situações das suas viagens (e consequentemente da sua vida) com um olhar de curiosidade e passa a enxergar os acontecimentos como uma nova experiência (mesmo que ruim, terá algo a lhe ensinar), tudo, literalmente tudo fica especial. Até aquele banho gelado no meio do deserto frio (e que normalmente você pensaria “ai que saco, tenho que tomar banho gelado! O que estou fazendo aqui? Que viagem horrível!”), faz parte daquela experiência, e esse momento nunca mais voltará.

 

Ficar ali na cratera observando a fumaça de enxofre, pensando em todo o esforço que acabou de passar e as barreiras que quebrou, é muito gratificante. Mas logo é hora de descer, porque quanto mais tempo parado, mais frio dá – e estamos falando em menos de -8 graus.

 

A descida é bem mais rápida, mas, em minha opinião, foi mais difícil que subir. Além de todo o cansaço e pressão acumulados no dia todo, você não pode desviar a atenção, em nenhum momento de onde está pisando, se não pode escorregar e sair literalmente rolando vulcão abaixo. É necessária a ajuda de um bastão para apoiar, já que o chão do vulcão é escorregadio: todo de areia, pedras e pedregulhos.

 

 

Por volta das 15h, já estávamos voltando à San Pedro de Atacama. Na volta, o ritual é o mesmo: muita água, porque a baixa brusca de altitude pode dar tontura e enjoo novamente. E assim finalizou-se um dos dias mais especiais de toda a viagem para o Deserto do Atacama.

 

LEMBRE-SE: Em sua próxima viagem…deixe seus medos, pré-conceitos criados pela mente, aquele “eu não gosto disso” de lado. Ao colocar os pés para fora de casa, tenha em mente apenas uma folha em branco e deixe que as pessoas, os lugares e as experiências desenhem algo novo nesta folha. Sem todos os seus bloqueios, medos, máscaras e formas de sabotar a viagem. Deixe-a fluir naturalmente. E, dessa forma, quando você mudar a sua visão em relação a tudo na vida, eu tenho a certeza que não terá como ser ruim qualquer viagem que você faça (nem um simples bate e volta para a praia).

 

 

*Fotos de Juliana Santos – todos os direitos reservados

 

SAIBA QUE:

 

  • É melhor deixar para subir o vulcão no seu último dia de passeios no Atacama, para já estar aclimatado;
  • Tome mais de dois litros de água na noite anterior e pela manhã, e coma alimentos ricos em carboidratos e açucares para dar energia;
  • Os primeiros 40 minutos de caminhada são os mais difíceis. É um trabalho constante ali com a mente para não desistir;
  • É de extrema importância a agência e o guia que vai com você, na hora em que você se cansar e quiser desistir, eles irão te motivar;
  • O trekking pede 90% do seu psicológico e apenas 10% do corpo físico;
  • Em todos os momentos, foque na respiração lenta e nos passos, não pense em mais nada, medite nisto;
  • É sim possível subir o vulcão sem guia, mas é extremamente recomendável estar acompanhado de um guia especializado em montanhismo e que conhece o local para te ajudar;

 

Você já passou por alguma experiência parecida? Deixe a sua opinião aqui nos comentários que eu vou adorar saber!

 

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