Por Sabrina Didoné
Quando você pensa em cidades históricas mineiras, pensa no quê? Ouro Preto? Mariana? Tiradentes? Pois pense na vizinha desta última: São João Del Rei.
Dona de um casario histórico invejável, a cidade é um encanto por si só. Distante 180km de Belo Horizonte, São João Del Rei é facilmente acessível tanto para quem vem de carro – siga pela BR-040 a partir da capital e, antes de Barbacena vire à direita, onde indicam as placas – quanto para quem vem de ônibus – a Viação Sandra oferece esse percurso, partindo da capital, em uma viagem de 3h30 ao custo de R$ 61,20.
Eu, por estar em uma road trip pelas cidades históricas mineiras, preferi a primeira opção. E pude perceber o quanto o trânsito fica um tanto quanto confuso em algumas ruas estreitas. Utilizei o carro só para chegar à cidade. O bom mesmo é circular a pé, já que os pontos turísticos não ficam muito distantes uns dos outros. E foi nesse momento que percebi um aspecto complicado do trânsito: os cruzamentos ficam ainda mais confusos na visão do frágil de um pedestre.
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Indo ao que importa mesmo: meu primeiro ponto de parada foi a Igreja de São Francisco de Assis, na Praça Frei Orlando. Ao contemplar sua fachada, temi que não estivesse aberta. Mas preste atenção e não desista: a entrada é permitida pela lateral.
A igreja foi construída em 1774, e registra o melhor do estilo barroco e rococó, que traz aquela sensação aos olhos de que simplesmente é impossível captar todos os ricos detalhes ao mesmo tempo. O ingresso custa R$ 3, bem válidos em virtude da beleza que o turista encontra no interior da construção; é permitido fotografar. Também é possível penetrar ainda mais na história, ao contratar guias que oferecem seus serviços para contar todos os detalhes. O valor é livre, cada turista paga o que acha justo ao final da explicação.
Hora de fazer uma viagem no tempo: de 1774 para 1985. O cemitério que fica nos fundos da igreja guarda uma história muito mais recente, de um personagem ilustre que ali repousa: o ex-presidente Tancredo Neves, nascido em São João del Rei. A inscrição em sua lápide revela o amor pela sua terra: “Terra minha amada, tu terás os meus ossos o que será a última identificação do meu ser com este rincão abençoado”.
Aproveite a vibe e siga por uma quadra a partir da Igreja e conheça o Memorial Tancredo Neves, na Rua Padre José Maria Xavier, 7. O ingresso custa R$ 2, e não é permitido fotografar no interior. Na casa de esquina, diversos cômodos recontam a vida do político mineiro, desde a sua infância, até a sua trágica e repentina morte em 1985, prestes a se tornar o primeiro presidente civil após a ditadura.
A história é recontada por meio de fotografias, objetos particulares e uma sucinta linha do tempo, que explica em detalhes a sua trajetória. É uma aula de história imperdível tanto para quem não a conhece, quanto para quem quer relembrar daqueles episódios. Ao término do percurso pelo Memorial, a impressão que tive foi de um final injusto para a sua vida: se fosse o fim de um livro, eu criticaria o escritor, pois certamente havia muito mais por acontecer.
Para terminar um dia perfeito em São João Del Rei, apenas circule a pé pelas ruas, curtindo o casario. Deixe seus pés serem seus guias, atentando para outros pontos arquitetônicos de interesse, como a Ponte do Rosário, a Igreja das Mercês ou a Igreja Nossa Senhora do Rosário.
Faça uma nova pausa: a Catedral Basílica de Nossa Senhora do Pilar (Rua Getúlio Vargas, s/n) vale uma parada. Ainda não encontrei uma melhor descrição para o interior dela do que a que consta na placa em frente: “o delírio do barroco explode em ouro e cores vibrantes, ofuscando o olhar”. Construída em 1721, ao adentrá-la, mais uma vez seus olhos não vão conseguir se focar em nenhum detalhe – é muita coisa para ser contemplada ao mesmo tempo. É bom saber: nesta Igreja não há cobrança de ingresso.
Ao terminar a sua visita, tomara que você tenha a mesma sorte que eu. São João Del Rei é conhecida como a cidade onde os sinos falam, e não é à toa. Eu estava por lá às 18h, e muitos sinos começaram a soar ao mesmo tempo. Dependendo do seu toque, diversas informações são repassadas – saiba mais sobre a linguagem dos sinos. Me lembrei então da música High Hopes, do Pink Floyd, que começa com o badalar de sinos, e tive a certeza de que não queria mais ir embora.