Por Vanessa Tenório
Em março de 2017, embarquei numa jornada de volta ao mundo sozinha em benefício da educação e da sustentabilidade. Meu planejamento (totalmente flexível ao longo da viagem) é mochilar por cinco anos, um em cada continente, fazendo uma “nova graduação” na prática através de imersão em escolas inovadoras e comunidades sustentáveis.
Sonho em cocriar, no Rio de Janeiro, uma escola gratuita que vise o desenvolvimento natural e integral de cada criança por meio das suas próprias potencialidades e talentos. Um espaço na natureza em que elas possam brincar e escolher o que querem explorar no processo de aprendizagem. Meu propósito é contribuir para a formação de cidadãos ativos e conscientes do seu papel na construção de um mundo mais justo e solidário, incentivando a cooperação e não a competição.
Com um pouco mais de 7 meses mochilando e gastando uma média de 15 euros por dia, já visitei 8 países no continente europeu e mais de 30 projetos. Neste período, constatei que é possível ser viajante, aprendiz, voluntária e agente transformadora ao mesmo tempo. Aprendi que a viagem é uma lúdica escola que nos ensina principalmente a respeitar as diferenças.
A base do meu projeto é a cooperação. Possuo um pequeno orçamento de 20 euros por dia. Ofereço ajuda durante a minha passagem pelas cidades e geralmente recebo acomodação e alimentação em troca. Até o momento, só paguei por cinco diárias em Sarajevo (onde foi uma escolha minha hospedar-me em albergue). A média de gastos mencionada acima é basicamente com transporte, pois me desloco muito para visitar os projetos educacionais.
Quer saber como consigo viajar abaixo do limite do meu orçamento? Compartilho a seguir um resumo do processo desde o início.
A origem
Sempre sonhei em explorar o mundo. Desde criança, acreditava que esta era a forma prática e divertida de aprender sobre Geografia, História, Biologia, Matemática, Línguas, Arte e tantas outras disciplinas segmentadas há séculos pelo sistema educacional.
De origem pobre, minha formação básica foi em escolas públicas da zona oeste carioca. Aos 15 anos, pedi permissão aos meus pais para ficar noiva e iniciar o estágio em secretariado na Petrobras. Desejava a minha independência desde cedo.
Permissão concedida, casei-me aos 18 e representei, no Dia Internacional da Mulher, a força feminina no mercado de trabalho como a mais jovem colaboradora na Petrobras. Com 25 anos, divorciei-me e concluí o curso de Letras em uma universidade privada, sendo a primeira da família a conquistar um diploma.
Nesta época, os meus olhos já brilhavam com os desafios da educação. No entanto, os 10 anos de experiência no mundo corporativo me direcionaram a uma especialização em Administração Estratégica e à construção de uma sólida carreira nesta área.
Divorciada, comecei a mochilar sozinha pela América do Sul e a tornar realidade o meu sonho de infância. Minha conexão com a natureza foi aumentando e a necessidade de estar mais nesse ambiente também. Passou a ser um desconforto voltar ao escritório e trabalhar mais um ano para, apenas no período de férias, ter o direito de desfrutar novamente daquela abundância e sensação de liberdade.
Para tentar aliviar este desconforto, comecei a trabalhar como voluntária em projetos sociais e a estudar sobre sustentabilidade. Com estas novas experiências, fui percebendo que eu havia escolhido a montanha errada para escalar, que eu estava trilhando um caminho que não fazia sentido para mim, que meus olhos não brilhavam no ambiente corporativo e que o topo, cujo sistema capitalista sempre me estimulou a conquistar, não estava alinhado à minha essência.
Aos 35 anos, me vi completamente perdida. Angustiada, comecei a me bombardear com pensamentos sobre o passado e o futuro: O que faço com a carreira de 20 anos que construí? Como iniciar algo novo a esta altura do campeonato? Naquele momento, era impossível ter consciência e agradecer pelo bendito click que mudaria a minha vida!
A transição
Foram dois anos tentando encontrar respostas, buscando o autoconhecimento em terapia, meditação, imersões na natureza, me conectando com pessoas que passaram ou estavam no mesmo processo de transição e transformação.
Nesta busca, reencontrei a educação através da Pedagogia da Cooperação. Participei de encontros que me fortaleceram e me mostraram que existe uma enorme rede composta por pessoas que acreditam em uma essência boa no ser humano, e que trabalham incansavelmente para criar ambientes de cooperação e solidariedade.
Fortalecida e consciente, decidi mudar e fazer parte desta rede! Comecei a planejar o meu sonho duplo de explorar o mundo e transformar a educação, e a me preparar para o voo mais importante desta minha jornada aqui na Terra. Comprei a passagem de ida, desapeguei de tudo e pedi desligamento do mundo corporativo em fevereiro deste ano.
O novo caminho
Livre para traçar um novo caminho, escolhi iniciar pela Europa e desenhei o roteiro da seguinte forma: Europa > África > Ásia > Oceania > América.
Tendo a cooperação como base, descobri que existem muitas pessoas solidárias espalhadas pelo mundo. Basta vibrarmos na mesma energia que o universo se encarrega da conexão.
Durante os sete primeiros meses de viagem, nas mais de 60 cidades europeias que visitei, utilizei diferentes formas de hospedagem: casa de brasileiros amigos e desconhecidos; Couchsurfing; WWOOF; e comunidades sustentáveis – onde ofereço algumas horas de trabalho voluntário em troca de acomodação e alimentação.
Geralmente, envio uma mensagem apresentando o propósito da viagem e recebo retornos positivos recheados de palavras carinhosas que nutrem o meu projeto e fazem o meu coração transbordar de amor e alegria (como estas abaixo, já traduzidas, enviadas por pessoas desconhecidas que me hospedaram).
“Estou impressionada com o seu e-mail! :) Parece que você está vivendo e construindo um sonho, obrigada por isso! Eu, pessoalmente, não posso esperar para conhecê-la. :) Sou grata pela ressonância e pelo chamado que você sentiu de vir a este lugar.” Croácia “Acho que você começou uma jornada que irá desafiá-la de muitas maneiras. Uma maneira de se adaptar a muitos valores, reações e prioridades de diferentes povos. Eu te admiro tremendamente e envio muito amor e apoio espiritual!” Dinamarca
Com estas oportunidades, conheço novos lugares, pessoas, histórias, culturas, tradições e costumes, coopero, aprendo, inspiro e sou inspirada, faço novas amizades, brinco com crianças de diferentes nacionalidades, aproveito o caminho e realizo o meu sonho enquanto viajo.
Meus olhos voltaram a brilhar!
“Nossas ações, por menores que pareçam, são capazes de mudar o mundo. A cada momento, fazemos escolhas sobre nossos modos de vida. Se nos conectarmos com o planeta e uns com os outros, seremos uma ponte para um futuro sustentável. Cada um de nós faz o seu Amanhã. E juntos fazemos os nossos – os Amanhãs que queremos.”
Museu do Amanhã – RJ/Brasil
Voe nessa jornada comigo em benefício da Educação e da Sustentabilidade. Aqui eu compartilho todas as minhas experiências em escolas inovadoras e comunidades sustentáveis e mais posts virão aqui no blog do O Viajante.