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12.04.2017

Atração limitada: lugares turísticos que controlam o número de visitantes

Pôr do sol no templo Phnom Bakheng, no complexo de Angkor Wat, Camboja | Foto: Giscard Stephanou

 

Por Giscard Stephanou

 

Já é uma tendência global limitar o acesso de turistas a pontos turísticos ou cidades populares.

 

Vislumbro que tais medidas, que atendem as necessidades de impor limites à visitação turística, então sendo adotadas por 4 motivos principais:

 

  • Conter o excesso de turistas;
  • Evitar prejuízos aos próprios pontos turísticos;
  • Evitar prejuízos ao meio ambiente;
  • Equilibrar a preservação e a progressão da cidade, assim como as necessidades dos turistas e as dos moradores locais.

 

A seguir, listo alguns dos pontos turísticos mais famosos do mundo e algumas das cidades que já adotaram medidas que restringem a visita direta ou indireta ao turista.

 

Angkor Wat (Camboja)

 

O sítio arqueológico de Angkor Wat é um dos maiores tesouros budistas do mundo. São templos espetaculares, próximos à cidade de Siem Reap, e Angkor Wat é, sem dúvida, o melhor conservado.

 

No mês de março de 2017, a Autoridade para a Proteção e Gestão de Angkor e da região de Siem Reap (APSARA), no Camboja, anunciou que irá restringir o número de visitantes ao templo Phnom Bakheng, uma montanha de 65m e o lugar mais popular para apreciar o pôr do sol na região de Angkor Wat. Apenas 300 pessoas poderão visitá-lo ao mesmo tempo.

 

O complexo de templos Angkor Wat é o maior monumento religioso do mundo | Foto: Zizo Asnis

 

A realidade é que, muitas vezes, as pessoas ficam no meio de uma multidão e não tem qualquer visão de Angkor Wat a partir de Phnom Bakheng. Assim, essa restrição é uma medida não só para preservar o templo, como também para tentar melhorar a percepção dos turistas com o pôr do sol ali, que tem sido dificultada pela superlotação há quase 10 anos.

 

Eu visitei Siem Reap e Angkor Wat em fevereiro/2017, e era absurdo o número de pessoas que queriam ver o pôr do sol naquele templo. Tanto é que as filas começavam a se formar horas antes pela Autoridade para a Proteção e Gestão de Angkor e da região de Siem Reap (APSARA).

 

Além disso, recentemente, aumentaram (ou melhor, inflacionaram) os preços para a visita a Angkor Wat, como meio para “tentar” diminuir o turismo na região. Desde o dia 1º de fevereiro deste ano, o preço das entradas para o Angkor Wat, no Camboja, praticamente dobrou. O passe de um dia quase duplicou de US$ 20 para US$ 37 e o passe de três dias subiu de US$ 40 para US$ 62. Para terem uma ideia, esses 2 passes correspondem a 90% dos visitantes do local.

 

Fernando de Noronha (Brasil)

 

As águas cristalinas de Fernando de Noronha | Foto: Adriane Lima

 

O Arquipélago de Fernando de Noronha é formado por 21 ilhas espalhadas numa extensão de 26 km² e a maior e principal ilha também é chamada de Fernando de Noronha. Para ajudar a preservar o equilíbrio homem-natureza, o turismo é restrito a apenas 420 visitantes por dia, e a estadia desses é altamente controlada. Logo após a chegada, tanto no aeroporto quanto no porto, o visitante tem que pagar uma Taxa de Preservação Ambiental (TPA).

 

Na prática, o objetivo é limitar a entrada de turistas e ampliar a receita (com a taxa de preservação ambiental) para minimizar os impactos provocados ao meio ambiente.

 

A taxa é cobrada de acordo com os dias de permanência na ilha. No entanto, se você sair antes do período programado, terá direito à restituição da diferença antes de embarcar para o continente. Da mesma forma, se resolver prolongar a visita, deve procurar o local do pagamento da taxa até o dia do vencimento inicialmente previsto e renovar o período de permanência.

 

Inclusive, o turista pode efetuar o pagamento on-line aqui.

 

Ha Long Bay (Vietnã)

 

Localizada no litoral norte do Vietnam, é a mais conhecida baía e certamente uma das principais maravilhas naturais deste país. São três mil ilhotas de rocha calcária que se levantaram de forma impressionante das águas do mar e a maior parte das ilhas não está habitada.

 

Barcos turísticos na baía de Ha Long | Foto: Iami Gerbase

 

As autoridades locais já tomaram algumas medidas, restringindo o número de ilhas nas quais os barcos podem atracar, fazendo com que a maioria dos turistas navegue sempre pelas mesmas ilhas e realizam paradas nas mesmas cavernas, como a Han Sung Sot.

 

Além disso, depois de alguns acidentes ocorridos com barcos que tinham muitos estrangeiros a bordo, o governo vietnamita aprovou uma lei em 2016 que determina que os turistas na Baía de Ha Long agora só terão permissão de ficar dentro das cabines durante o passeio, ou seja, não poderão mais apreciar a vista dos decks/convés dos navios. Ou seja, talvez o melhor do passeio não poderá ser feito e pode afetar o número de turistas na região.

 

Coliseu de Roma (Itália)

 

Os entornos do Coliseu são extremamente tumultuados | Foto: Zizo Asnis

 

Maior e mais famoso símbolo do Império Romano e uma das 7 novas maravilhas do mundo moderno, o Coliseu era um enorme anfiteatro reservado para combates entre gladiadores contra outros seres humanos ou gladiadores contra animais selvagens. O Coliseu foi o segundo sítio arqueológico mais visitado do mundo em 2015 e 2016 (perdendo apenas para a Grande Muralha da China), com mais de 6 milhões de visitantes.

 

Para facilitar o acesso da população ao centro histórico e valorizar a cultura, a cidade de Roma já proibiu a circulação de carros na região dos pontos turísticos da cidade. Além disso, pelo site do Coliseu, com taxa de serviço on-line, o ingresso sem horário agendado no Coliseu tem o limite de visitantes de 3 mil pessoas/dia.

 

Machu Picchu (Peru)

 

Também chamada de Cidade Perdida dos Incas, Machu Picchu é uma cidade pré-colombiana bem conservada e localizada no topo de uma montanha, a 2400 metros de altitude, no vale do Rio Urubamba. Também é uma das 7 novas maravilhas do mundo moderno.

 

A icônica Wayna Picchu, em Macchu Picchu | Foto: Zizo Asnis

 

Segundo recomendações impostas pela Unesco, apenas podem ingressar 2.500 turistas diariamente a Machu Picchu. Os bilhetes são vendidos pela internet e o sistema é bloqueado quando alcança esse número.

 

Além disso, Wayna Picchu (por volta de 2720 metros de altitude), que é a montanha icônica das fotos de Machu Picchu (a que aparece ao fundo nas fotos clássicas da cidade), também já recebeu limitação no número de visitantes. O governo peruano limita a visita a 400 pessoas por dia para subir em Wayna Picchu, sendo 200 em cada horário (Grupo 1: as 7, com tolerância até as 8 horas e Grupo 2: as 10 com tolerância até as 11 horas).

 

Chichén Itzá (México)

 

Chichén Itzá foi uma grande cidade pré-colombiana construída pelo povo maia no final do período clássico e, hoje, é uma das 7 novas maravilhas do mundo moderno.

 

O complexo de pirâmides de Chichén Itzá | Foto: Adriane Lima

 

Com relação à Pirâmide de Kukulkán, principal monumento deste complexo arqueológico e nome da divindade suprema dos maias, e que possui 30 metros de altura, sendo 24 metros de degraus e 6 metros do templo superior, temos a seguinte restrição: Não é permitido subir e nem entrar na pirâmide. Quando visitei Chichén Itzá em 2010, já não se podia subir.

 

Cidades Europeias e Asiáticas

 

A realidade é que o turismo tem crescido demais em todo o mundo, e essa tônica também afeta grandes cidades da Europa, como Londres, Paris, Madrid, Barcelona, Roma e Amsterdam. Receber muitos turistas é bom e ruim ao mesmo tempo. É bom porque o turismo gera muitos empregos e renda, e pela possibilidade de melhorar/desenvolver economicamente uma região não explorada ou pouco explorada turisticamente.

 

Mas é ruim porque pode afetar o comércio local, existe a possibilidade de perder algumas tradições e de diminuir a quantidade de imóveis disponíveis para residentes (não preservando as oportunidades de moradia) e as cidades, muitas vezes, acabam se transformando em um lugar quase que só de diversões, descaracterizando o espaço urbano daquela localidade, e gerando até protestos dos moradores locais.

 

A famosa Casa Milà, obra de Gaudí, em Barcelona | Foto: Zizo Asnis

 

Por isso, muitas cidades europeias e asiáticas também têm adotado medidas para equilibrar a preservação com a progressão, e as necessidades dos turistas com as dos moradores.

 

  • Barcelona aprovou uma lei que não controla especificamente o número de visitantes, mas limitará o número de camas disponíveis de hotéis e apartamentos turísticos.
  • Veneza está considerando adotar um limite para o número de turistas.
  • Várias ilhas da Tailândia implementaram regras rígidas para visitantes em 2016, e adotaram a prática de cobrar taxas para desembarcar/entrar nas Ilhas e taxas de entrada do parque nacional, como no caso de Maya Bay (The Beach).
  • Dubrovnik, a cidade mais visitada da Croácia, decidiu limitar recentemente o número de turistas dentro da zona histórica em 8 mil pessoas. O interessante é que usam as câmeras de segurança para controlar o acesso. No momento que chega aos 6.000 visitantes, as autoridades locais começam a cortar o fluxo e os tempos de espera para entrar na Cidade Velha aumentam. Se a multidão chega às 8.000 pessoas, o acesso à zona histórica começa, então, a ser negado pelas autoridades.
  • Cidades da Inglaterra estão pensando em adotar um imposto turístico.

 

Limites indiretos

 

Muito se fala que o excesso de turistas e vendedores nestes lugares disputados faz com que seja impossível apreciar toda a dimensão mística, a magia do local, sendo, assim, outra razão para essas medidas de restrição.

 

Se não bastassem todas estas restrições para os turistas, os recentes atentados terroristas em inúmeras cidades, principalmente da Europa, podem e estão afetando o turismo mundial.

 

Um exemplo é a cidade de Petra, uma cidade histórica e arqueológica localizada no sul da Jordânia. A cidade é famosa por sua arquitetura, onde as tumbas, templos, depósitos e casas são talhadas na pedra vermelha do local. E, com todos os méritos, também é uma das 7 novas maravilhas do mundo moderno.

 

Pôr do Sol em Petra | Foto: Giscard Stephanou

 

A redução do turismo em Petra é facilmente explicada, pois a economia da Jordânia paga um preço pela turbulência regional e seu papel de destaque na batalha liderada pelos EUA contra os militantes do Estado Islâmico, nos países próximos, como a Síria e o Iraque.

 

Considerando o contexto da segurança nos países, o controle nas fronteiras, a exigência ou não de vistos, a aceitação de refugiados ou não, todos estes atentados certamente influenciarão na decisão de políticas mais restritivas.
E, da mesma forma, impactarão significativamente nas viagens para destinos na Europa, Ásia e em torno dela, pois os governos locais estarão pensando cada vez mais em limitar o número de turistas, com o intuito de proteger as suas áreas consideradas patrimônio cultural.

 

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